Vestibulum ante ipsum primis

Sei que o assunto não é nada confortável, mas percebo a importância deste nesse momento.
Têm sido frequente notícias sobre suicídios e temo que o assunto caia na banalidade sem que realmente pensemos sobre ele. No Brasil, Balneário Camboriú é a cidade de Santa Catarina com maior prevalência de suicídio. Precisamos aprofundar o assunto para entendermos um pouco mais sobre a questão, talvez muito mais complexa do que imaginamos. Quanto mais soubermos e falarmos sobre isso, mais conseguiremos evitar que atos como estes ocorram. É uma questão de responsabilidade social.

O suicídio é um fenômeno complexo e, infelizmente, ainda cercado pelo desconhecimento, medo, preconceito, incômodo e atitudes condenatórias em relação a ele. Essa questão ainda é vista como um problema individual e isso dificulta muito o seu entendimento como um problema que na verdade afeta toda a sociedade. SUICÍDIO É UM PROBLEMA DE SAÚDE PÚBLICA e para que haja melhora dos seus índices é necessário mudar a visão da população e consequentemente acredito que haverá mais atuação de pessoas de diferentes setores da sociedade na sua vigilância, prevenção e controle, inclusive você.

Para saber um pouco mais sobre a história do suicídio, a palavra suicídio vem do latim “auto assassínio” e foi utilizada pela primeira vez no século XVII, na Inglaterra (1642). Desde a Antiguidade, o suicídio sempre foi muito contraditório, seja no campo sociocultural, econômico, filosófico, político ou religioso. Em algumas sociedades era visto como ato de heroísmo, em outras, ato de liberdade ou reprovação social, mas o suicídio foi quase sempre objeto de reprovação social.

Existe uma diferença entre pensar em suicídio e expressá-lo na ação. Alguns indivíduos tem ideias de suicídio esporádicas ao longo de suas vidas, mas que nunca levaram adiante; outras, podem planejá-lo durante anos, meses, semanas ou dias; e outras, ainda, cometem suicídio por impulso, geralmente mediante algum tipo de transtorno de personalidade instável ou por intoxicação exógena por álcool, medicações e/ou outras drogas.

Alguns índices em relação ao suicídio são importantes para que possamos entender sobre o impacto dessa questão para a sociedade como um todo. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima um aumento de 60% no número de suicídios nos últimos 45 anos em todo mundo, representando a terceira causa de morte da faixa etária entre 15 e 35 anos em ambos os sexos.

Sempre comento com meus pacientes com ideação suicida que o suicídio tem também um impacto indireto, ou seja, para cada suicídio cinco a dez pessoas próximas sofrem graves consequências psicológicas, econômicas e sociais. Essas pessoas são as chamadas sobreviventes e, por isso, não é um problema apenas individual.

É surpreendente, mas a cada ano há em torno de um milhão de mortes por suicídio no mundo, representando UMA MORTE A CADA SEGUNDO. No Brasil houve um aumento de 43,8% no índice de suicídio entre 1980 e 2005. A taxa de mortalidade depende
do estado, sendo mais elevada em Roraima, Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul e Santa Catarina. Os homens cometem suicídio quatro vezes mais do qua as mulheres, independentemente da faixa etária. As mulheres, entretanto, têm quatro vezes mais probabilidade de tentá-lo. As taxas de suicídio aumentam com a idade. As pessoas mais velhas respondem por 25% dos suicídios e está crescendo rapidamente entre jovens de 15 a 24 anos. A maioria dos suicídios ocorre entre pessoas de 15 a 44 anos de idade. A taxa mais alta de suicídio em homens está relacionada aos métodos utilizados, como arma de fogo, enforcamento ou saltos de lugares altos. As mulheres em geral tomam superdose de substâncias psicoativas
ou venenos, mas o uso de armas de fogo está aumentando. De maneira global o método mais comum é enforcamento. Um índice alarmante em relação ao suicídio foi publicado pela OMS. As taxas de suicídio entre crianças e adolescentes cresceram no Brasil entre 2002 e 2012. Dos 10 aos 14 anos 40% e dos 15 aos 19 anos 33,5%. Se o suicídio entre adultos já está cercado por silêncios e tabus, imaginem entre crianças e adolescentes.

Além disso, é provável que esse índice seja ainda maior na medida em que os estudos nessa faixa etária são escassos e morte abaixo de oito anos é automaticamente classificada como acidente. É fato que a sociedade em geral não aceita a ideia de que uma criança possa querer se matar e que os pais tendem à negação, mas eles o fazem.

Casamento com filhos diminui o risco de suicídio. A taxa de suicídio é de 11 por 100mil para pessoas casadas e as solteiras registram uma taxa global quase duas vezes maior. O suicídio ocorre com mais frequência entre indivíduos socialmente isolados e com história familiar de suicídio. Quanto mais alta a condição social maior o risco de suicídio, mas uma queda na condição social também aumenta o risco. O trabalho em geral protege contra o suicídio.

A relação entre saúde física e doença com suicídio é significativa, 32% das pessoas que cometem suicídio passaram por tratamento médico 6 meses antes. Estima-se que a doença física contribui para o suicídio em 50% dos casos. As principais doenças físicas que levam ao suicídio são perda da mobilidade, principalmente quando a atividade física é importante para a ocupação; desfiguração, principalmente entre as mulheres, e dor crônica intratável. Existem
medicações clínicas que podem levar à depressão, aumentando o risco de suicídio, como corticosteroides, anti-hipertensivos e alguns agentes anticâncer.

Quase 95% de todas as pessoas que cometem ou tentam suicídio têm um transtorno mental diagnosticado. Depressão corresponde a 80% desse número, esquizofrenia por 10% e demência por 5%. Um suicídio nunca tem uma causa única ou isolada. Antes de chegar ao final, o suicida já mostrou sinais e procurou ajuda para esclarecer o seu sofrimento. A atenção a todo esse processo e a capacidade de lidar com o problema pode resultar em um desfecho favorável. As situações mais frequentes que tornam o indivíduo favorável à ação suicida são: doenças graves; isolamento social; ansiedade; desesperança; crise conjugal e familiar; luto; perda ou problemas no emprego; transtornos mentais, como uso abusivo de álcool e outras drogas; esquizofrenia e depressão. No idoso há aumento do risco quando há solidão, maus tratos, abandono e perda de vínculos. Tentativa prévia é um fator de risco muito importante, pois 15 a 25% das pessoas que tentam
suicídio cometem nova tentativa no ano seguinte e 10% consumam o ato em pelo menos 10 anos.

Esses são apenas alguns dados em relação ao suicídio no mundo e no Brasil. Existem ainda diversos estudos em andamento e outros muitos já estabelecidos. Fato é que o suicídio é um problema de saúde pública e que pode ser evitado. Percebo na minha prática clínica que o melhor meio de prevenção ao suicídio é incentivar o paciente a falar sobre o assunto; além disso, percebo que quanto mais as pessoas que estão inseridas no contexto do paciente informarem-se
sobre o suicídio e falarem sobre isso abertamente sem medo ou preconceitos, menos tentativas e fatos consumados acontecem. Se a pessoa com ideação suicida sentir-se amparada pela família e pelos amigos, sem que haja julgamentos
desnecessários, é mais fácil que procure ajuda especializada o quanto antes, facilitando o prognóstico de uma forma global. Para cada caso existe uma abordagem. Portanto, SABER E FALAR SOBRE SUICÍDIO É A MELHOR SOLUÇÃO!

PERCA O MEDO E O PRECONCEITO,
NÃO PERCA TEMPO. PROCURE UM
PSIQUIATRA.